No
Canto XXVI, ainda no mesmo céu oitavo, o
apóstolo João Evangelista interoga o poeta sobre a
virtude da Caridade - "Convém passares por mais fino
crivo: Que foi que a seta te orientou, então, a alvo como
esse tão remoto e esquivo? Tornei-lhe: A filosófica
razão, e o fundamento que no céu esplande combinaram-se
em mim nessa impulsão...o justo que morreu por nos dar vida,
... - tiraram-me do mar do erro sem fim, conduzindo-me à
praia apetecida. Amo as ramas florescentes do jardim do eterno jardineiro,
e as amo tanto quanto nelas o bem reponta, assim."
Seu brilho muda de cor e ele explica ao poeta que ficou mais vermelho porque sentiu ira, já que fora o primeiro papa da igreja e agora a via naquela situação que pouco mudaria no futuro. "O que na terra o posto que ocupei usurpa agora, e o deixa assim vacante aos olhos de Jesus, nosso Rei, converteu em sentina degradante a minha própria tumba, onde o exilado dos céus se refocila, delirante." A
alma do apóstolo Pedro diz a Dante que ele deve contar as
coisas que ali ocorreram e criticar a igreja "E tu, que
voltarás, sendo mortal, à terra, lá chegando,
narra a gente o que ora te anuncio, tal e qual." Em seguida
Beatriz chama-lhe a atenção e o faz perceber que subiram
ainda mais em direção ao nono céu. E sorrindo
para ele faz com que sinta a ascensão ao primo móbile
ou nono céu no Canto XXVIII. Do
texto se apreende que Dante quer, de forma geométrica e em
perspectiva, narrar na sequência dos versos a disposição
dos céus. "Mas Beatriz, que podia ler em mim, seguiu
dizendo: Os giros iniciais cabem ao Serafim e ao Querubim. Ei-los
que voam, rútilos, iriais, Note-se que à época Leonardo Da Vinci (1452-1519) ainda não era nascido e que a idéia da perspectiva na pintura só viria à tona com ele, com Michelângelo Buonarroti (1475-1564) e com Rafaello Sanzio (1483 - 1520) os três formando um tripé dos maiores artistas do Renascimento, introdutores de novas técnicas em pintura, escultura e arquitetura, baseadas em redescobertas da matemática clássica, além de serem também poetas e inventores. Passamos então ao Canto XXIX em que Beatriz adivinha os pensamentos de Dante mais uma vez e explica ao poeta como são criados os anjos e qual a sua natureza, para depois tecer uma crítica severa aos falsos pregadores, aqueles que deixaram de lado os ensinamentos das sagradas escrituras e enganam os fiéis com balelas, chalaças e falsas interpretações do texto sagrado. "No entanto, culpa tal no céu merece menos repúdio que quando se nega a Escritura ou se a obscurece." No Canto XXX Dante chega à casa da divindade e vê à sua frente um rio de luz assumir uma forma circular como se fosse uma rosa e nas suas pétalas e na aura luminosa que apresenta estão as almasa beatificadas e os anjos, respectivamente. "O Amor que imobiliza o Empíreo céu saúda assim a todos à chegada, por prepará-los para o brilho seu." Ao
final deste canto Beatriz revela a Dante que o próximo papa
- Clemente V - trairá Henrique VII de Luxemburgo que se sagrará
Imperador dos Romanos - e a ele fará resistência velada,
sabotando-lhe todas as tentativas de unificar a Itália. Clemente
V, conhecido como o Gascão, leva a sede da igreja Católica
para a França e a tentativa de Henrique falha, pois, como
disse Beatriz, a Itália não estava pronta. "...o
qual, chegando à suma investidura, sacudirá a Itália,
mas em vão, pois a achará hostil e não madura."
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