Quando por dilettanzie o ver per doglie,
che alcuna virtú nostra comprenda,
l'anima bene ad essa si raccoglie,

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À popa estava o celestial barqueiro,...e, dentro, de almas o rebanho inteiro."
Purgatório-Canto II -- (vs. 43/45)

Já ao pé da Montanha, de difícil acesso, Dante vê Manfredo, rei alemão, filho do Imperador Frederico II, da Sicília, morto por Carlos D'Anjou da Casa de França durante uma batalha, e que lhe pede que transmita um recado/pedido à sua filha - por não ser um réprobo no Inferno que lhe façam orações, posto que se forem bem dosadas abreviam-lhe o tempo no Purgatório, reduzindo-lhe a pena, e o ajudam na subida ao Céu.

No Canto IV os poetas iniciam a subida ao monte, no Ante-Purgatório, e lá vêm as almas dos indolentes, preguiçosos, negligentes e omissos, arrependidos na hora extrema, antes da morte, e que aguardavam, ali, do lado de fora do Purgatório, propriamente dito, que transcorresse um prazo equivalente à duração de sua vida, o tanto que foram preguiçosos em vida, antes de serem admitidas no Paraíso.

Neste período do poema, versos de 1 a 12, Dante lança novas questões filosóficas sobre a alma, bem ao sabor das discussões de Aristóteles e dos conceitos da doutrina da anamnese defendida por Platão e outros filósofos da Academia e posteriormente do Liceu. Por ali estão os indolentes - "Ó caro guia meu, presta atenção, naquele," eu disse, "ali, tão indolente como se da preguiça fosse irmão," e os negligentes e omissos.

Um deles ironiza Dante (Belacqua, artesão e construtor de alaúdes) que retruca, mas descobre, depois, num laivo de humor, que a alma está certa, pois o Anjo que guarda a entrada da penha escarpada não o deixará ainda adentrar ao Paraíso, e que portanto, não deveria ter pressa. Prosseguindo pelo ante-Purgatório, no Canto V, Dante narra o estado de contemplação a que as almas de lá quedavam por vê-lo, vivo, a projetar, à luz do sol, a sua própria sombra no solo, o que era fato novo naquele lugar. "Uma gritou: vê que não alumia à esquerda, o sol, daquele, o acompanhante, que é como vivo que se evidencia."

Ali, observando Dante, estão aqueles que viveram em pecado e que morreram de morte violenta, mas se arrependeram no último instante e perdoaram os que lhes feriram e invocaram o nome do Cristo. Depois, no Canto VI do Purgatório, os poetas encontram um conterrâneo de Dante e este aproveita para fazer graves denúncias em um inflamado e longo discurso contra a situação da Itália, mergulhada no caos, dividida e abandonada a aventureiros sem escrúpulos, em que não só as cidades lutavam entre si, mas até dentro das próprias cidades os habitantes se engalfinhavam por querelas, acerbadamente."Ah! Serva Itália, albergue de pesar, nau sem piloto em borrasca funesta, não dona de nações, mas lupanar!" A palavra lupanar tem origem no termo lupus - lobo - lupanar era a casa de lobos,e, figurativamente, casa de prostituição. Ora, Roma foi fundada por dois irmãos amamentados por uma loba (mulher da vida), daí, talvez a citação, repetindo a imagem da loba (prostituta) também encontrada no início do poema e da sua descida ao inferno.

No Canto VII os dois poetas guiados pelo amigo de Dante adentram um vale ameno e cheio de flores, muito bonito, e lá caminham calmamente as almas de reis e príncipes, que absorvidos pelos prazeres e cuidados mundanos só nos últimos instantes de suas faustas vidas é que voltaram seu pensamento para Deus. Lá estão o Rei da Alemanha, Rudolf de Habsburgh, o Rei da Boêmia, Ottachero, Felipe III, Rei da França, Henrique III da Inglaterra e outros."Pai e sogro eles são o mal de França: atormenta-lhes a dor que lhes recorda as suas vidas de vício e intemperança."

Preparam-se assim os poetas para passarem a noite no campo florido, Canto VIII , e neste canto o conterrâneo de Dante, que até então se mantivera tranquilo ante a sua presença, toma um susto ao saber que ele, o poeta, está vivo. "Veio ele a mim e a ele fui eu: Oh! Céus, juiz Nino gentil, quão exultante fiquei por não te encontrar entre os réus!" Juntos estão outros dois homens, um juiz e um governador de província, que ficam intrigados e ao mesmo tempo maravilhados com aquela presença - ao mesmo tempo observam que dois anjos esverdeados e com a fronte dourada estão descendo do Céu para guardarem aquele jardim da serpente. Assustado com a notícia Dante se achega a Virgílio e entabula conversa com os presentes.

Dentre eles o juiz, Nino Visconti, que pede a Dante um favor - instrua a sua filha a fazer preces para apressar seu caminho ao Paraíso. "Pelo dom sagrado que te outorgou Aquele a quem convém manter o seu desígnio impenetrado, quando do mar aqui fores além, dize à minha Giovana para orar por mim, pois que a inocência acede ao bem." Súbito, um deles avista a serpente, a mesma que segundo Dante levara Eva ao pecado, e mais rápido ainda os anjos descem e o bicho maldito, pressentindo-os, foge imediatamente. Canto IX: Dante adormece sobre a relva, no jardim florido, e sonha com uma águia de asas douradas que o carrega pelos céu, mas na verdade era Santa Lúcia que o conduzia dali à porta do Purgatório, propriamente dito.

 

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