OVÍDIO - Cantos da Decadência Romana Públio
Ovídio Naso
"Presenceantes de uma dramática dèbacle cluidora dos instintos que conformam, subestruturalmente, a nossa sociedade, envolvem-nos a barafundia e os descompassos que desarticulam os princípios basilares que montam a nossa organizatura social. E tudo vemos que se desajusta, como em Roma de Ovídio, esse devasso de peregrino talento, que apurou, em poemas imarcescíveis, os vícios e as corrupções que gafaram a grã-finura latina. Bojudas
de vícios eufóricos, as sociedades decadentes e enfermiças
como a nossa, como a de Musset ou a de Ovídio, sacode-as o deboche
que ultraja todos os sentimentos, varrendo-os numa onda lodal. Mas,
ensinou-nos Spinoza que a Natureza não compactua com os charlatães
que a querem sob seu domínio (A natureza e a Vida pouco ou
nada têm a ver com as loucuras do Homem dentro da História).
"As
Metamorfoses" "Ah,
que maldade introduzir carne em nossa própria carne, engordar
nossos corpos glutões Abstenhamo-nos,
ó mortais, Ó
boi, quão grande é a sua sobremesa ! Um ser sem traição,
inofensivo,
A
poesia de Publius Ovidius Naso incluía poemas sobre o amor (Ars
Amatoria) um verdadeiro Kama Sutra romano, sobre os mitos (Metamorfoses)
e sobre seu sofrimento no exílio (Tristia). Embora
não haja evidência de que Ovídio tenha realmente
praticado o vegetarianismo, como se poderia supor pela leitura destes
excertos, é evidente que ao menos simpatizava com a opinião
de Pitágoras. Nasceu
em Sulmão, 43 a.C. e morreu em Tomes, no Ponto Euxino a 17 ou
18 d. C. Iniciou sua carreira como tribuno e em cargos judiciários
e políticos, mas sua paixão era a poesia, e dizem que
mesmo falando ou escrevendo era-lhe natural que o fizesse em versos.
Era filho de família patrícia, rico, por isso abandonou
tudo para se dedicar a poesia e às mundanidade de que foi excelente
cantor. Sua mocidade foi plena destes exercícios e escreveu
Os Amores - Ars Amandi (3 livros) e outros seis livros: as
Heroídas e os Cosméticos e os Remédios
de Amor, em que a medicina é pior do que a chaga. Embora
rico e frequentador do palácio de César Augusto, de quem
era amigo e comensal, um dia foi exilado e nunca se soube o porquê.
Neste
poema Ovídio tratou do grande tema - o caos e a eterna mudança,
antecipando os grandes debates que surigiriam no Século XIX.
De alcance estético e filosófico, este poema, o reconduziu,
com lauréu, de volta aos píncaros da melhor tradição
intelectual, de onde provieram Horácio, Virgílio e Dante.
Podemos dividir a sua vida poético/intelectual em 3 ciclos -
Elegíaco-amoroso; Épico e por fim Exílio. Ars
Amatoria - A Arte de Amar
Livro I - "O que tens de fazer é passeares lentamente pelo pórtico de Pompeu, quando o sol bate às costas do leão de Hércules...E também as praças públicas (quem pode crer?) convêm ao amor e a sua chama frequentemente surge no ruidoso Fórum...Mas deves procurar especialmente os recurvados teatros: estes lugares serão para ti os mais férteis. Ali acharás o que amar, com que divertir-te uma só vez ou manterás um ligação duradoura...Não te afastes também das corridas dos cavalos de raça, o circo, muito frequentemente oferece boas oportunidades...Senta-te perto da mulher, nada te impede, aproxima teu corpo do seu o mais possível...as dimensões do lugar obrigam as pessoas a se apertarem...a moça tem de se deixar tocar. Trata então de travar conversa e tem o cuidado de fazeres com que as primeiras palavras não passem de lugares-comuns...tudo deve servir de pretexto para teus cuidados...Não confies demais, porém, na enganosa claridade das lâmpadas, a noite e o vinho prejudicam a apreciação da beleza...Todas as mulheres podem ser apanhadas...depende apenas da maneira de colocar as armadilhas...Será mais fácil o cão da Menália voltar às costas a uma lebre, do que uma mulher resistir às delicadas insinuações de um jovem..." Abaixo página - capa de uma edição, talvez a primeira, vertida para a língua portuguesa, das Metamorfoses de Ovidio, datada de 1841.
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