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Ora
cen porta l'un de' duri margini;
O
Canto XV ainda encontra os poetas no sétimo Círculo,
em que ambos seguem viagem pelas margens elevadas do Flegetonte
longe da chuva de fogo que caía sobre a areia. Ali Dante
encontra um amigo, com quem conversa demoradamente e que prevê
um futuro brilhante para o poeta.
O Canto XVI narra os dois poetas ainda nas encostas do monte
protegidos da chuva de fogo, e mais uma vez Dante reconhece outros
três personagens contemporâneos seus, faz menção
de querer abraçá-los, mas a chuva de fogo que cai
sobre os desgraçados o mantém afastado. "Mas,
porque eu teria ardido e assado, fez-me o receio à intenção
renunciar de abraçá-los, que eu tinha contemplado."
Pedem notícias de Florença e depois somem rapidamente.
Há neste Círculo oitavo outras valas e na terceira estão os simoníacos, ou traficantes de coisas sagradas, enterrados de cabeça para baixo e com os pés e as pernas de fora, evolvidos em chamas. Estamos então no Canto XIX e os versos aqui escritos incluem, inclusive, segundo historiadores, referências da vida pessoal de Dante, que fora acusado em sua juventude de ter danificado e profanado, com atos de vandalismo, o Batistério de São João na igreja de São João Batista em Florença, onde fora, ele mesmo, quando criança, batizado.
O
poeta, entretanto, se defendeu, dizendo que o que fizera na verdade
fora salvar a vida de uma criança que ali caíra e
corria, assim, o risco de se afogar. Neste canto e nesta vala está
o Papa Nicolau III metido de cabeça para baixo numa estrita
tumba ardente, agitando as suas pernas, que ficaram de fora envoltas
em chamas, tentando chamar a atenção do poeta. Já
na quarta vala do oitavo Círculo, no Canto XX, os
poetas divisam os mágicos, ilusionistas, adivinhos e outros
embusteiros e intrujões, com os rostos transpostos ao contrário,
ou seja, voltados para as costas, e sem poder olhar à frente
caminhavam necessariamente, e possivelmente de forma desequilibrada,
às avessas."Examinando-as
mais atentamente notei que para trás era tornado seu pescoço,
portentosamente." Adiante, na quinta vala do oitavo Círculo do inferno, Canto XXI, os dois poetas vêem os funcionários públicos corruptos e venais, que praticaram tráfico de influências, prevaricadores e trapaceiros, todos mergulhados num poço de betume fervente. Mais uma vez Dante sente medo, pois Malacoda, um diabo diretor, que organizava a tortura por ali, instigado por seus inferiores tenta atacar Dante com seu tridente, no que é imediatamente detido por Virgílio que o convence a deixá-los continuar a viagem. "...Mas, ele lhes gritou: Quietos, eu digo!..."
No Canto XXII, ainda na quinta vala,
os poetas observam uma alma tentando escapar e sendo recapturada
por um demônio,"- tal o pato
se vê que, espavorido, nas águas da laguna mergulhando,
foge ao falcão, que volta, aborrecido."
Em seguida assistem dois outros demônios lutando entre si.
Seguem pela sexta vala do oitavo Círculo, no Canto XXIII,
e lá estão os hipócritas, que desfilam
vestidos de chumbo por dentro e ouro por fora, um pesadíssimo
e incômodo uniforme para carregar. "Ah!
manto eterno, fatigante e rico! Nós os seguimos, pela esquerda
entrando, ouvindo-os maldizer o estado inico."
Eles têm pressa, mas seu castigo é justamente o de
não poderem ir mais rápido, dado o peso de seus mantos
e a multidão que se aglomera arrastando-se lentamente à
sua frente. Ali também, crucificado no chão, preso
por pregos enormes está Caifaz, o hipócrita que no
Sinédrio aconselhou os fariseus a condenarem Jesus. Os outros
passam-lhe por sobre o corpo, pisando-o pesadamente. Mais adiante, na sétima vala do mesmo círculo, já no Canto XXIV, estão os ladrões, que correm em meio a enormes serpentes e quando por elas são picados, entram em combustão, reduzindo-se a cinzas, para renascerem logo em seguida e novamente serem perseguidos e picados por enormes serpentes. "Nunca da Líbia os areais flamantes produziram tão pérfidas serpentes, jáculas, hidras, najas sibilantes..." Chegamos ao Canto XXV - sétima vala do Círculo oitavo - onde as serpentes transformam-se em almas e depois ocorre o contrário, num círculo vicioso infindável, em que surgem criaturas de seis pernas ou braços, numa monstruosa união entre ladrões e serpentes, que se desfaz e se refaz, pena atribuída também aos que cometeram crime de peculato em Florença, cidade de Dante."O resíduo da carne sobejando modelou-lhe o nariz na face plena, um pouco os lábios finos engrossando."
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