de Dante Alighieri

Ambientação e história - pag. 2

Mas, pela influência francesa, próximo ao papa Bonifácio VIII, Carlos D'anjou, Conde de Provença, da linhagem dos Capettos, paladino das intenções papais, aliado a um exército de provençais, languedocianos e franceses, trouxe de volta, seis anos depois, novas esperanças e os Guelfos ao centro do poder florentino, após a morte de Manfredi em combate (cujo corpo só foi encontrado dois dias depois de finda a batalha, enterrado sem honra sob um monte de pedras). A luta pela reconquista foi tão sangrenta quanto as outras, e dizem alguns historiadores que o rio Calore, que cortava a região, tingiu-se de vermelho, notabilizando as perseguições e a furiosa vingança guelfa com a benção do papa.

Contudo, todas as esperanças ruíram novamente quando, apenas dois anos depois, o exército gibelino, comandado pelos herdeiros da família alemã Hohenstaufen, foi exterminado e seus chefes foram publicamente decapitados em Nápoles. Aquela situação contínua afastava, definitivamente, as esperanças de paz para a região. Apesar das lutas constantes entre as facções rivais locais (cujo motivo remoto parece ter sido o assassinato de um jovem marido infiel da família Buondelmonte pelos membros da família Amidei, o quê poderia muito bem ter servido de inspiração para W. Shakespeare e seu texto Romeu e Julieta, com breves alterações, dadas as coincidências), a infância de Dante corria mais ou menos dentro da normalidade. Aos oito anos de idade já demonstrava grande interesse pelas letras e seu pai, que reuniu condições materiais suficientes o levou aos estudos e pode, então, começá-los com os Beneditinos e os Franciscanos no convento de Santa Cruz.

Embora rica, a cidade de Florença não rivalizava culturalmente com outras da Toscana como Bologna, Arezzo e Siena, cidades que possuíam universidades famosas e efervecente vida cultural. Dante teve de enfrentar a escassez de mestres na língua, mas teve educação primorosa. Em pouco tempo, graças à sua inclinação natural para a poesia, pode se aproximar dos notáveis do convento e cedo iniciou os seus estudos do Trívio - que compreendiam conhecimentos singulares de latim, de retórica e de dialética, mais voltados para as artes, e anos depois já podia estudar o Quadrívio que abrangia a aritimética, a geometria, a música e a astronomia, enfim, de conteúdo mais filosófico, currículos franqueados à juventude rica da época, ainda que sem acesso aos avanços e grandes conhecimentos produzidos pelas outras cidades mais evoluídas.

Dante ficou órfão de mãe aos treze anos e a aos dezoito anos, casou-se com Gemma Donati, a partir de um arranjo bem articulado pelo seu pai, para garantir-lhes a fortuna. Com ela Dante tem três filhos: Pietro, Iacopo e Antonia e talvez um quarto chamado Giovanni, mas nenhuma vez estes são citados em seus textos. Sua mãe, contudo, era-lhe uma imagem amada, constante e recorrente, e a própria Divina Comédia a apresenta sob diversas formas.

Já então a obra de Aristóteles - seus diálogos e estudos acroamáticos: a metafísica, a lógica, a física, história natural, matemática e psicologia - parva naturalia - estudos de Ética, Política, Economia, Poética e Retórica -, cala profundamente em sua consciência.

Palácio Guelfo em Florença
Aristóteles - A Inteligência.


Esta base teleológica é o fundamento intelectual da própria Igreja Romana, que já havia feito uma reforma do ideário platônico que a conformava, e era natural que dominasse a mente do jovem Dante, arremessando-o ao mesmo tempo de encontro a uma realidade conturbada socialmente, em que via a sua família, sua amada, seus amigos e sua própria vida em meio a um profundo caos de interesses e jogos políticos, sociais e econômicos escusos e efervecentes. Dante era um monarquista, cria, como os mestres Platão e Aristóteles, que este era o melhor meio de governo e defendeu esta tese em um livro "De Monarchia" dividido em três volumes, e datado de 1298, provavelmente.


Talvez seja este o primeiro tratado político inspirado na filosofia escolástica que procurava explicar a política medieval através dos fundamentos teológicos do Estado moderno. Com Egino di Collono e Tomás de Aquino, Dante Alighieri institue o tripé intelectual que fundamenta os princípios políticos e religiosos moldados no aristotelismo que empolgou o admirável sistema filosófico conhecido como Escolástica - uma nova interpretação do cristianismo e de sua influência sobre o Estado e a forma de exercer poder sobre as pessoas até hoje.

No texto Dante reflete conceitos de direito - a lei divina, a lei natural e a lei humana que merecem ser sempre revistos. Sua concepção medieval cristã constitue os primórdios de um direito público até então desconhecidos. Ele, contudo, era frontalmente contrário à Igreja que se arvorava no poder Temporal, e deixa isso bem claro neste livro, quando faz críticas severas ao papa Bonifácio VIII e à sua permanência teimosa enquanto representante do poder Supranacional sobre diversos países europeus. Ao afirmar que um Imperador não deveria se submeter ao papa, e que podia, talvez, no máximo, pedir-lhe a benção, como um bom filho bom a um pai, Dante arrumou uma grande briga com o clero. Este texto seu foi condenado à fogueira pela Inquisição e entrou no Index Librorum Prohibitorum (o catálogo das obras proibidas pela igreja como ofensivas ao cristianismo e ao poder do papa.)

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