ambientação e história - pag. 3 Em outro livro seu, Il Convivio, Dante, como no Banquete de Platão, ao utilizar-se do estilo dialógico no texto, coloca a discussão sobre as formas da arte poética de seu tempo e cria distinções entre a alegoria poética e a alegoria teológica, numa clara desmonstração da influência de Tomás de Aquino sobre seu conhecimento. Concluído, segundo os estudiosos em 1308, Il Convivio, é uma enciclopédia em volgare, uma deturpação consciente do latim dos textos clássicos usado pelos eruditos da época, e que, dizem, deu origem à língua italiana. Todo o discurso de Dante parece ser político, religioso - ele se põe contra o poder excessivo de Roma, do Papa e dos Cardeais da Cúria, que tenderam à temporalidade terrena e se entregaram ao gosto pela matéria, pelo ouro, pelo próprio poder, negando a doutrina cristã. O foco das discussões era exatamente se deveriam ser, a Igreja e o papa, possuidores ou não de bens materiais. Os partidários Dominicanos (considerados deturpadores dos ensinamentos de São Domingos, fundador da ordem) defendiam a riqueza material da Igreja e do papa, ao contrários dos Franciscanos (seguidores da doutrina de São Francisco de Assis, postura de Dante) que a queriam pobre. Nessa
época Dante elabora, também, De
Vulgari Eloquentia,
uma defesa científica da linguagem popular e o primeiro
estudo de uma língua moderna (graças à sua proximidade
com os filólogos, poetas provençais e estudiosos que pretendiam
mudanças na Itália, bem como sua unificação
político-territorial). Diz
a história que bem cedo, daquela época doce de sua vida,
a imagem recorrente da bela e eterna Beatriz, moça que conhecera
numa festa na casa de Folco Portinari, rico comerciante
da região, passa a fazer parte de sua vida. Sempre que podia
Dante tentava revê-la. A paixão fora fulminante e a imagem
da menina era uma luz que se renovava em seu espírito a guiar-lhe
os passos na escuridão, ele que perdera a mãe quando ainda
contava treze anos de idade. Admirava Beatriz à distância
não como a uma criatura mortal, mas como um anjo de Deus;era
especialmente sensível à sua beleza física e sensual. Apesar disto, também enamorou-se por outras moças, claro, mas escreveu seus primeiros poemas dedicados à sua musa secreta, o que certamente animou uma certa infidelidade e uma intrigante curiosidade em suas namoradas, que sentiam-se confusas, naturalmente, por não saberem bem o que exprimir pelo poeta a não ser, talvez, um misto de raiva, amor e compaixão.
Desta forma Dante passou a suportar a distância de sua amada causada
pela diferença social, mas, diz a história, se conheceram
e se cumprimentavam quando se viam nas ruas, nos templos. Nada mais
do que isso, porém. Contudo, era a simples visão da amada
o suficiente para que Dante escrevesse e sonhasse com ela, e a cada
vez que a visse novamente sonhasse e tornasse a escrever sobre e para
ela. Parece
claro que Dante assume que Beatriz representa mais do que uma simples
mulher, e estudos comprovam que a ela foi feita uma comparação
com a Verdade, a Beleza, com o Bem, assim como os fins ulteriores a
que todos os filósofos se dedicam a procurar. De fato, Beatriz
se torna o símbolo desta procura, deste ideal.
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