la
gente che non vien con noi, offeste
Ali, naquela plataforma estreita onde os poetas caminham em fila única, rente ao abismo, sofrem os luxuriosos e os poetas avançam com medo, procurando se proteger do fogo, de um lado e de uma possível queda, do outro. Chegando ao Canto XXVI encontramos Dante, Virgílio e Estácio ainda caminhando pela borda do precipício em torno do sétimo e último terraço do monte Purgatório, e Dante pára para observar detidamente um grupo de almas que caminham em sua direção, em meio ao fogo, e logo após, nota outra turma caminhado em sentido contrário à primeira. Um grande poeta italiano, chamado Guido Guinizelli, que ali se encontra, explica a Dante que aqueles do primeiro bando são os luxuriosos segundo a natureza; e o outro grupo o dos lascivos contra a natureza, homossexuais ou invertidos, o mesmo pecado de muitos soldados romanos das campanhas das Gálias, também atribuído a Júlio César, o Imperador, a quem seus súditos chamavam Rainha - "Nosso pecado foi o hermafrodito." Curiosos,
como sempre, as almas questionam Dante sobre o porquê de sua
sombra projetada na parede, mas o fazem sem sair de dentro das chamas,
pois querem purificar-se, já que o desejo de reparar a sua
culpa era maior do que sua curiosidade e afastar-se das chamas era
afastar-se do elemento purificador. "Por que vedas o sol,
como a parede, como se não tiveras adentrado inda da morte
a inextricável rede?" Ainda neste terraço,
dos luxuriosos, Dante se encontra com o eminente poeta Arnaut
Daniel, o iniciador do estilo provençal - stil
novo - que costumava exprimir-se poeticamente no idioma "vulgar"
da Langue D'oc, região de Provença na França.
Dante se lembra das almas queimando no Inferno e das pessoas que morrem enterradas vivas, imagina sua dor e sente um frio percorrer-lhe a espinha. Não consegue avançar. Foi novamente Virgílio quem o acalmou - "Esquece o vão temor, deixa a tibieza: move o teu passo firme, entra seguro." Virgílio lhe diz que apenas as chamas o separam de Beatriz e desta forma, instigado por aquele nome que não lhe sai da mente, adentra as chamas. Chegam à entrada da estreita vereda que os levará ao sétimo giro, ao cimo da montanha, onde se localizava o Paraíso terreal. E ali, antes de entrar definitivamente o Anjo apaga o sétimo e último P de sua testa (seguramente isso ocorreu ali, embora no poema Dante não o diga). Logo escurece e eles - Dante, Virgílio e Estácio, ainda juntos, adormecem nos degraus da montanha até o raiar do novo dia, e o poeta sonha com uma mulher lindíssima.
E libera Dante para passear por uma floresta, após dizer-lhe que o último P de sua testa já estava apagado, e que portanto, já dispunha de perfeita consciência e vontade própria. Podia ir só. Dante, sem esperar pelo seu mestre que o acompanhara por todo aquele caminho até então, adentra a floresta e se aprofunda em suas sombras verdes, pássaros cantores e muitas flores, até que para em frente a um pequeno riacho em que se reflete nas águas ora claras, ora túrbidas, a vegetação de sua margem. Subitamente um bela mulher surge à sua frente. "Uma jovem que o passo, além, movia, e cantava, e colhia, ao canto, flores, sozinha, em meio à recamada via" Curioso, o poeta quer saber quem é e porque está tão radiante, e ela, Matelda, explica as razões daquele lugar, o Paraíso Terreal, da pureza e da divindade daquele paraíso, cujas plantas, ventos, água e demais elementos diferem totalmente dos da terra, posto que são elementos celestiais. Ali
na frente Dante verá dois regatos - o Letes, cujas águas
tinham a propriedade de fazer esquecer os pecados daqueles que a bebessem,
e como um seu afluente o Eunoé, ou rio da Boa-memória,
que fazia o efeito de perenizar a memória das boas ações
de quem o bebesse. E ainda, adverte a mulher, o efeito de um só
se produziria se da água do outro se bebesse, e seu sabor era
insuperável. Assm, satisfeita a curiosidade de Dante, ele olha
ainda mais uma vez para Estácio e Virgílio, que lhes
dirigem um breve sorriso, ambos satisfeitos com a explicação
de Matelda.
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